Investidores seguem com publicidade e novas adesões, apontam denúncias.
Inquérito civil público deverá apurar o caso.
Em
Porto Velho,
de acordo com o Ministério Público Federal (MPF), denúncias anônimas ao
órgão dão conta de que divulgadores das empresas Telexfree e BBom
estariam contrariando as decisões judiciais, que valem para todo o país,
dando continuidade à publicidade do negócio e captação de novos
investidores. Diante disto, um inquérito civil público deve ser
instaurado pelos Ministérios Público Federal e Estadual para apurar
estas denúncias. Ambas as empresas tiveram bens bloqueados e as
atividades suspensas por suspeita de atuação da forma do sistema
pirâmide financeira, ilegal no Brasil.
De acordo com o procurador da república Raphael Bevilaqua, as empresas
alegam trabalhar na forma de marketing multinível, um expediente que é
permitido no ordenamento brasileiro, onde o ganho dos integrantes se
baseia na venda de um produto. “São aquelas que as pessoas vão às casas
das pessoas, oferecem o produto e ganham um percentual sobre isso.
Alguns até chamam outras pessoas, mas o principal ganho vem da venda do
produto”, explica o procurador.
Diferente disto, a pirâmide financeira tem como principal fonte de
renda a adesão de novas pessoas. “O lucro da empresa e das pessoas que
estão acima se tira a partir do ingresso de novos membros e seus
investimentos”, compara Bevilaqua.
Procurador da república Raphael Bevilaqua
(Foto: Vanessa Vasconcelos/G1)
O procurador explica que as novas pirâmides tentam disfarçar a sua
forma de atuação como marketing multinível, mas, na verdade, os produtos
vendidos pelas empresas são uma atividade completamente secundária. “A
fonte de renda principal é a entrada de novos investidores”, ressalta.
Esta situação é averiguada, segundo o MPF, pelo número de vendas dos
produtos com relação à quantidade de pessoas que entraram no sistema da
empresa. É comprado, também, o lucro de uma pessoa pela entrada de novos
membros e com relação ao que se ganha pela venda do produto.
De acordo com o procurador, se ganha mais com a entrada de uma nova
pessoa, do que com a venda do produto, o que faz com que as pessoas
queiram aderir novas pessoas, formando a pirâmide financeira “O produto
existe para dar uma aparência de legalidade pra coisa”, afirma
Bevilaqua.
Diante destas circunstâncias, nas decisões dos Tribunais de Justiça do
Acre e
Goiás,
que determinaram a suspensão das atividades das empresas Telexfree e
BBom, bem como o bloqueios de seus bens, os juízes entenderam que as
duas empresas têm fortes indícios de estarem se constituindo através de
pirâmides financeiras.
R$ 250 mil em seis meses
“Entra que o negócio é bom”, quando ouviu essa frase, dita por um amigo
de longa data, o vendedor de consórcios Orlando Melo não pensou duas
vezes, fez um empréstimo no valor de R$ 6 mil e se associou a empresa
Telexfree. Segundo ele, em seis meses, teve retorno financeiro de mais
de R$ 250 mil.
Neste período, Orlando cadastrou 15 pessoas, que, de adesão em adesão,
se transformou em uma rede com seis mil membros. Do terceiro mês em
diante, o lucro chegou a até R$ 2 mil por dia. Ao contrário do
Ministério Público, Orlando defende que a Telexfree não é um sistema de
pirâmide, uma vez que, de acordo com ele, os contratos valem por apenas
um ano e, ao serem renovados, dão nova chance a quem está começando na
empresa.
Orlando explica que, além de trabalhar com a publicação de anúncios em
vários sites, a Telexfree trabalha com telefonia VOIP (telefonia via
internet). “É um sistema de telefonia que funciona, posso garantir”,
afirma.
Questionado se estaria arrependido por ter se associado ao Telexfree,
Orlando é categórico ao afirmar que não. “Me associaria mil vezes.
Ganhei dinheiro e quero continuar ganhando”, finaliza o investidor.
Azar
A estudante universitária Alana Sousa investiu R$ 3 mil na Telexfree há
cerca de um mês e meio, duas semanas após o investimento, a empresa
teve seus pagamentos e atividades suspensos pela Justiça do Acre o que,
de acordo com a estudante, não deu tempo para que ela começasse a
receber o retorno financeiro. “Espero que ocorra tudo bem com o
processo, pois é um investimento muito alto pra ser jogado no lixo”,
afirma a Alana.
Alana entrou no negócio após ser convidada por uma vizinha. Aderindo ao
‘pacote família’, que custa os R$ 3 mil investidos, Alana deveria
publicar, por dia, cinco anúncios, o que lhe renderia, no final de cada
mês, cerca de R$ 1,8 mil. “eu tive o azar de fazer parte da empresa
justo quando aconteceu isso [o embargo judicial dos pagamentos] e não
deu tempo para recuperar o que foi investido”, lamenta a estudante, que
afirma conhecer pessoas que conseguiram recuperar o investimento e
ganhar ainda mais com a rede.
Com o processo judicial em andamento, Alana teme perder o valor
investido, caso se comprove o sistema de pirâmide financeira. Neste
caso, o procurador da republica explica que o bloqueio de contas e bens
das empresas e de seus sócios tem, justamente, o objetivo de ressarcir
os investidores, no caso da comprovação da pirâmide.
Fonte: g1.globo.com
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